Pé rapado
A expressão “Pé rapado” é usada para designar pessoas de origem humilde e sem bens próprios.
No Alentejo, por vezes, em fortes discordantes diálogos, é-lhe conferida um sentido depreciativo – quando o emissor não aprecia a evidente falta de princípios de outrem.
Não sendo bem-vindas palavras que integrem o calão e a brejeirice, o povo alentejano muniu-se, ao longo dos tempos, de um conjunto de expressões cujo significado depende do tom utilizado.
Assim, “Pé rapado” é muitas vezes atribuído a pessoas de má índole e vazias de respeito pelo próximo.
As origens
Na verdade, as origens de “Pé rapado” não são muito conhecidas mas estão relacionadas com o início da divisão da sociedade, em classes sociais. As gentes abastadas, pouco praticantes do árduo trabalho, vestiam com primor, calçavam cheiro novo e deslocavam-se de carruagem, sempre que a sua presença se fazia sentir nos edifícios públicos (igrejas e mosteiros…). Imaculados e sem qualquer pó de terra, eram portadores de pegadas invisíveis.
Os menos afortunados (praticantes de todos os trabalhos) não possuíam bens ou dinheiros que lhes permitissem a compra de um par de sapatos; descalços e sujos, deslocavam-se a pé para integrar as festividades religiosas. As suas pegadas, nítidas e exageradas, tornaram-se motivo de repulsa para os que nada faziam. Para evitar que sujassem o interior dos edifícios públicos, os rapa-pés ganharam assento nas entradas.
Pé rapado, no Alentejo
O povo alentejano, que muito cedo se dispersou pelos campos (os famosos montes alentejanos) por não se rever nas emergentes divisões sociais, pouco dignificantes para muitos seres humanos, adotou a expressão conferindo-lhe um significado próprio.
Pelas bandas do Alentejo, “Pé rapado”, “não vales a água que bebes”, “não é tinto, nem branco”, “filho duma rosa”, “andar aos caídos”… é sinal que o ouvinte “caga postas de pescada”, “dá pano para mangas” e ” necessita de uma demanda”, ou seja: não é boa rês.
Embora sem utilidade, os rapa-pés continuam presentes nas entradas das igrejas e outros edifícios públicos.